É ao som das conversas intermináveis entre gaivotas, habitantes das traseiras da minha nova casa, que faço o meu regresso... Gaivotas... O primeiro sinal que vivo finalmente numa cidade à beira-mar e que me conquistou em menos de uma semana. Na verdade já tinha um bicudo caso de paixão platónica por ela, mas agora que cá estou vejo que ela própria também tem um fraquinho por mim. Sim... Só pode ser isso! Se não, não consigo explicar como se mostrou tão deslumbrante nos últimos dias!
Adoro os seus contrastes. As ruas velhas tão cheias de vida, o pitoresco colorido dos azulejos lado a lado com edifícios tão imponentes que parecem tirados de um qualquer filme negro, o hype das gentes da moda e as gentes antigas redondas e falastronas, as tradições de sempre de mão dada com a nova cultura, os bares do momento a fazer esquina com lojas de ferragens, daquelas atulhadas até ao tecto e com um cheiro que não sentia desde criança. Perco-me com esta pronúncia, tão carregada, que tanto parece doce como áspera e derreto-me com um bom Ó Muor.
Claro que não estaria verdadeiramente em casa sem a primeira visita ao Mercado do Bolhão, um dos últimos mercados de traça antiga que ainda resistem ao avanço dos tempos. Mal se entra viajamos no século e sentimos logo a alma daquelas paredes. Depois é deixarmos-nos ir ao sabor dos pregões das vendedoras cravadas de histórias na pele e encher os sentidos com tantas cores e aromas...
Um mercado cansado, é certo, mas é impensável que alguém em algum lugar tenha feito planos para o destruir, retirando-lhe tudo o que tem de genuíno... O que ele mais quer é alguém lhe honre a história e restitua a beleza roubada.
Algo me diz que eu e a minha máquina nos vamos tornar inseparáveis e conto mostrar-vos mais desta minha nova cidade-velha... Ainda há tanto para ver!
Ah! E esta semana celebra-se uma data muito especial por isso agucem o apetite que vai haver guloseimas à séria! É a cozinha nova a ser estreada com pompa e circunstância!